sexta-feira, 15 de março de 2013

Lutar ou desistir?

 

 

Por Maria Silvia Orlovas - morlovas@terra.com.br

 
 

Não somos educados para esperar, para ter paciência, tolerância nem resignação. Ao contrário, a maioria de nós acha que para ser uma pessoa honrada, respeitada pela sociedade precisa ser lutadora, persistente e vencedora. Mas quem é que vive apenas de bons momentos que a vitória proporciona?
Quem não perdeu um emprego, um namorado ou não passou num concurso?
Difícil se manter em alta, como vencedores, não é?

Porque não é assim que a vida funciona, afinal, para alguém ganhar, outro terá que perder. Para um negócio dar certo, vários outros tiveram que fazer concessões, acertos e negociações. E isso é algo constante na vida. Não apenas nos relacionamentos profissionais, ou nos negócios, mas também na família, na educação dos filhos, nas amizades.
Somos convidados a crescer no aprendizado da diplomacia, da evolução para alcançar a felicidade.

Gostei muito do filme sobre a vida de Luiz Gonzaga, "De pai para filho". Um filme que mostra a realidade brasileira que muitos de nós não conhece. Uma vida sofrida, cheia de vitórias e derrotas como o caminho de todos nós. Alguns pontos da história e diálogos me chamaram muito a atenção, em especial o relacionamento conturbado de pai e filho, com muitas arestas a serem aparadas mostrando claramente o quanto é importante a gente aceitar os fatos da vida e encontrar beleza justamente no espírito criativo, e na determinação em acreditar no bem.
Sinto que resignação ao contrário de ser algo ligado à desistência, derrota, humilhação como parece, em princípio, é algo ligado à força, à conquista pela inteligência, diplomacia e evolução.
Os Mestres ensinam que responder de forma rude, agressiva, é algo que já vem pronto pois diz respeito aos instintos, já amadurecer a resposta, falar de forma diplomática, educada, ainda que verdadeira, é algo que exige evolução.

Para recuar em algumas de nossas escolhas, precisamos de muita humildade e sabedoria, mas já pude provar o sabor maravilhoso desta atitude que nos protege.
Nesta sintonia, lembrei de um cliente que atendi esta semana. Homem de meia-idade, lutador, Nercio não se conformava com seu fracasso profissional. Tentando progredir na vida, aceitou empregos em outras cidades, viajou pelo Brasil fazendo a esposa e filhos deixarem de lado o conforto de viver com os parentes enfrentando sempre o desafio do novo. Percebeu que agora no momento de aproveitar um pouco mais a vida, teria que continuar batalhando porque não conquistou o patamar necessário para uma vida financeira mais tranqüila.

Quando conversamos, seu olhar era pesado, sua energia sofrida, pois além das desgastantes expectativas profissionais frustradas, ele estava soltando sua infelicidade em outras áreas de sua vida; impaciente, brigava com os filhos e esposa dizendo que eles gastavam demais e não respeitavam seus sacrifícios. A sessão de Vidas passadas mostrou um guerreiro derrotado, orgulhoso que carregava muita raiva dentro de si, pois acreditava que se os colegas tivessem se empenhado um pouco mais poderiam ter vencido a luta. Naquela existência, ele morreu no campo de batalha sem ter sido recolhido. Havia muita dor e revolta.

Quando prosseguimos na sessão com uma conversa muito franca, depois de ouvir suas muitas reclamações, pedi que ele se abrisse para ouvir um jeito novo de analisar o assunto, porque muitas vezes é comum as pessoas se fecharem nos seus problemas e não quererem ver nenhuma outra solução, senão aquela que traçaram para si mesmas. Expliquei que quando as portas se fecham, quando tudo está dando errado, precisamos aceitar a derrota, precisamos simplesmente abandonar a luta. Mas que a maioria das pessoas não aceita esse tipo de atitude porque não quer se ver como um derrotado.

Nercio, não é uma derrota! Você vai dar um tempo para si mesmo, para recompor o raciocínio. Expliquei que quando a gente está sofrendo, cansado de tanto lutar por nossos objetivos, e nada dá certo, normalmente ficamos com raiva e passamos a descontar em outras coisas, arrumando culpados e criando mais infelicidade.

É sábio aceitar a derrota. Muitas vezes, é fundamental deixar as coisas acontecerem do jeito que dá para ser. Precisamos aprender dar um tempo e deixar de nos cobrar resultados. Não lutar, se dar o direito de descansar e repensar os caminhos da vida pode fazer toda diferença do mundo. Porém, quem vai trilhar esse rumo, precisa além de deixar fluir, fazer as pazes com Deus e abrir o coração para descobrir qual a lição de tudo isso. Porque se não se abrir ao aprendizado, a pausa será apenas uma pausa, e não uma oportunidade de encontrar a solução para o sofrimento.

 

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